ainda é tempo
- Clariane Amorim
- 3 de ago.
- 2 min de leitura
Hoje é o típico dia endomingado. Daqueles que a gente acorda com o dia já no meio e o corpo ainda lento, tentando entender onde estamos e quem somos. Domingo com cheiro de travesseiro e som de AnaVitória no fundo, enquanto o pensamento vai longe. Na vida, nos ciclos, nas pausas que não pausam de verdade. Nas tentativas, nos fins, nos recomeços e nos meios.
No meio da preguiça que se estende feito coberta, li um tweet que dizia: “E quando a Clarice Lispector se perguntou se ia viver a vida inteira esperando que o domingo passasse?” E ai eu senti tudo.

E pensando no tempo que a gente perde esperando ele passar, me lembrei da história da ex da Ana Caetano — que escreveu um livro sobre ela, depois da Ana ter escrito um álbum inteiro sobre ela. Fiquei pensando: quantos livros, álbuns, cartas e silêncios precisam existir pra que a gente entenda o quanto gostou de alguém? Quantas formas a gente precisa tentar até aceitar que algumas histórias não voltam? Quantos blocos de nota, caderninhos preto, blogs no Wix e mensagens apagadas dizem o que deveria ser dito pela boca?
Esses dias, saí do trabalho e o céu estava rosa. Daqueles tons que a gente quase duvida que são reais. Naquele tom que me tocou. O tipo de céu que ativa memórias — mas, mais do que lembrar, ele me fez confundir: o que foi verdade e o que foi só a minha tentativa desesperada de fazer dar certo?
Ontem chorei rios com um filme clichê da Netflix. Mas não por conta do roteiro. Foi porque, no fundo, ele me lembrou do óbvio: a vida passa. E com ela, as pessoas. E que sorte a gente tem quando percebe isso antes que elas passem também. Só que muitas vezes a gente escolhe não olhar pra isso. Tenho entendido muito que a vida adulta também é segurar a bomba que é deixar algumas pessoas pra trás - sejam amigos ou parceiros românticos. Tenho entendido que, no momento, faz muito mais sentido continuar com algumas amizades que outras, que mais fazem a gente passar 24/7 irritada.
Hoje, em conversa com meu parceiro de vida, perguntei: “Você não tem medo?” E ele, no seu tom pisciano calmo e genuíno respondeu os mesmos medos que eu.
Foi aí que entendi: às vezes, os receios que parecem só nossos são, na verdade, compartilhados. A gente só não fala sobre eles o suficiente. E quando fala, dá vontade de rir de leve — de nervoso, de alívio, de amor.
No meio desse compartilhamento de medos, saíram os meus maiores: Medo do esquecimento, medo de adoecer, medo de ver os meus pais morrendo, medo da morte, medo de não poder ter o Vicente, medo de morrer sozinha. Tive todo o acolhimento que precisei. Mas tive medo, medo de não saber se ainda é tempo.
É... hoje foi um domingo endomingado. Sigo na tentativa de entender se ainda é tempo.
Com amor,
clari.
Comentarios